TARCISIO DO ACORDEON
Cearense de 27 anos ….
Uma voz sofrida, a antiga sanfona do forró de vaquejada e a batida renovada da pisadinha. Essa é a base do sucesso do cearense Tarcísio do Acordeon, que se espalhou rápido pelo Brasil no final de 2020 e segue forte em 2021.
Adepto da sofrência, ele fica feliz em ser chamado de ‘Marília Mendonça do forró’.
Na vida e na música, as histórias de Tarcísio são de romance, tristeza, persistência e vaquejada…
O principal hit é “Meia noite (você tem meu WhatsApp)”, do álbum “Diferente dos iguais”, lançado em dezembro de 2020.
Mas ele já tinha outras faixas em alta rotação pelo país, do álbum “A nova cara das vaquejadas”, de julho, como “Nega”, “Roxinho” e “Não sou perfeito”.
Calejado aos 27
Tarcísio nasceu em Campos Sales, cidade de 27 mil habitantes no sul do Ceará, entre o sertão do Cariri e o limite com o Piauí. O músico de 27 anos é calejado: toca desde os nove. “Comecei muito cedo na música pelo meu pai ser músico. Ele sempre incentivou”, conta.
“Minha história com a música é complicada de contar porque foi muito sofrida. Já trabalhei em muitas bandas e fui muito humilhado. Nesse meio artístico há muitos empresários que gostam de pisar nos músicos. Não pagavam salário em dia, a gente ficava no meio da estrada passando precisão”, lembra.
Tarcísio foi pai cedo, aos 16 anos. “O tempo que eu passei mais dificuldade foi quando o meu filho nasceu. Eu precisava manter minha casa e o dono da banda atrasando meu salário, às vezes não pagava. E você sabia que estava entrando dinheiro. Porque a gente tocava quase todos os dias.”
Para pagar as contas, ele chegou a ajudar o pai, que trabalhava em bancas de legumes e verduras no Ceagesp, em São Paulo. Às vezes, também ia para lá tocar forró e passar o chapéu entre os trabalhadores. Durante alguns períodos, ele voltava para o Ceará.
“Minha cidade é muito humilde. Os empregos eram só na roça ou na prefeitura. Então meu pai sempre ficou assim: Vamos para São Paulo…. Vamos embora pro Norte… Sempre vivemos assim, como ciganos. Não tinha tempo certo. “
A sorte começou a virar quando ele resolveu criar seu projeto de forró, para fugir de humilhações em outras bandas. Ele começou com duas tentativas: um trio e uma banda. As duas falharam.
“Montei meu projeto com meus dois irmãos. A gente tinha um trio pé de serra, com zabumba, sanfona e triângulo. Mas o forró pé de serra era muito pequeno. Era mais para um aniversário, um churrasco de um amigo. Eu pensei: ‘poxa, preciso tentar ser grande'”, lembra.
“Aí montei uma banda. Coloquei bateria, baixo, guitarra. Mas quando a gente ia tocar, o cachê só dava para pagar os caras (risos). Às vezes sobrava 20, 30 reais pra mim, só para não chegar em casa liso”, conta Tarcísio.
“Aí eu parei, pensei, fiquei matutando. Conversei com meu pai, falei: ‘Tá difícil a coisa. Acho que vou montar um esquema de teclado para mim…’ A gente que é músico sempre tem um preconceito com teclado.”
O vaqueiro e o tecladista
Tarcísio confirma o preconceito que havia no mercado do forró contra o formato simples da pisadinha – estilo eletrônico, que foi subestimado, mas ficou cada vez mais popular e hoje é fenômeno nacional.